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Ciência, Tecnologia e os Movimentos Open

  • Publicado: Sábado, 03 de Dezembro de 2022, 20h34
  • Última atualização em Sábado, 03 de Dezembro de 2022, 20h35

Assim como na computação tivemos os movimentos de código aberto e software livre, na ciência temos os movimentos open access e open science. Vamos entender um pouco o contexto do surgimento desses movimentos.

A maior parte das pesquisas são realizadas com financiamento público, logo é de se esperar que ao término haja a divulgação e compartilhamento dos resultados obtidos. Esses resultados costumam ser divulgados em periódicos científicos revisados por pares. Contudo, a maior parte dos periódicos científicos de maior relevância são gerenciados por editoras privadas que restringem o acesso a assinantes e/ou oferecem a compra individual de acesso aos artigos.

Para que seus pesquisadores tenham acesso a essas publicações, muitas universidades e instituições públicas compram assinaturas de uso coletivo pagando cifras milionárias para tal. A margem de lucro da Elsevier, por exemplo, atingiu em 2018 a marca de 37% segundo relatório financeiro da própria empresa, maior do que a Apple em seu ápice de 27% em 2012.

Diante desse cenário, fica evidente a incoerência das editoras em explorar financeiramente esses artigos, fruto de pesquisas financiadas na maior parte com recursos públicos. Essa foi a luta do americano Aaron Swartz, hackativista, criador do feed RSS, do Markdown e da rede social Reddit, o ativista deixou clara sua indignação ao publicar o seu manifesto “The Guerilla Open Access Manifesto(2008), no qual expõe a situação e convoca a sociedade a se rebelar contra esse sistema e inclusive a baixar e distribuir os artigos nas redes.

Em 2010 e 2011, ele mesmo o fez utilizando as redes do MIT para baixar os artigos da JSTOR, mas logo foi preso. A grande contradição foi a própria JSTOR se negar prestar queixas contra Aaron, momento em que o próprio governo dos EUA daria seguimento às acusações por meio de sua procuradoria (JSTOR, 2013). O episódio terminou em tragédia com o suicídio de Swartz, aos 26 anos, em 11 de Janeiro de 2013.

Em Novembro de 2021, a UNESCO publica um documento em recomendando a adoção da ciência aberta (UNESCO, 2021). Neste, ela define ciência aberta como:

[..] movimentos  e  práticas  que  têm  o  objetivo de   disponibilizar   abertamente   conhecimento   científico   multilíngue,   torná-lo  acessível  e  reutilizável  para  todos,  aumentar  as  colaborações  científicas  e  o compartilhamento de informações para o benefício da ciência e da sociedade, e abrir os processos de criação, avaliação e comunicação do conhecimento científico a atores da sociedade, além da comunidade científica tradicional.

 

A UNESCO ainda incentiva a abertura de todo o método e processo das pesquisas, com abertura de:

  • Publicações científicas
  • Dados
  • Recursos educacionais
  • Softwares e códigos-fonte abertos
  • Hardware aberto

Assim como o movimento código aberto ressaltou as qualidades e vantagens da abertura do código-fonte, não é difícil imaginar as inúmeras vantagens ou até mesmo o quão contraditório para a própria ciência é não adotar a ciência aberta:

  • Reprodutibilidade: um dos pilares fundamentais do método científico, ao não dar publicidade ou restringir o acesso aos resultados da pesquisa, aos dados, aos códigos, aos métodos utilizados, ou ainda utilizar ferramentas não abertas criam-se barreiras para a reprodutibilidade além da própria adoção e aplicação dos conhecimentos desenvolvidos.
  • Confiabilidade: a abertura dos dados significa abertura às críticas, à reprodução e aplicação da pesquisa, deixando-a sujeita a ser testada e replicada abertamente.
  • Desenvolvimento científico e tecnológico: maior capacidade de compartilhamento, reutilização e integração de informações, o que é essencial para o progresso científico e tecnológico.

 

A importância e necessidade de adotarmos a ciência aberta ficou ainda mais evidente frente ao quadro da pandemia da COVID-19, visto que a própria Elsevier abriu o acesso a todos os artigos científicos publicados acerca do tema. O momento demonstrou como foi essencial o compartilhamento de informações para a rápida adoção de medidas de prevenção e controle, o tratamento adequado dos pacientes e para o desenvolvimento de vacinas. Em um curto período de tempo, o compartilhamento de publicações científicas, bem como dados sobre a doença disponibilizados pelas organizações públicas de saúde foi crucial para o enfrentamento da crise sanitária, crise a qual poderia até mesmo ter sido evitada com uma ciência mais aberta e integrada às políticas públicas.

 

Referências:

(45) O Menino da Internet: a História de Aaron Swartz - YouTube

FIX, BLAIR. The Legacy of Aaron Swartz: The Fight for Open Access – Capital As Power, 2019

JSTOR, JSTOR Evidence in United States vs. Aaron Swartz, 2011.

UNESCO, Recomendação da UNESCO sobre Ciência, 2021

 

Projeto Institucional: divulgação e engajamento no desenvolvimento para softwares livres.

Prof. Caio Hamamura.

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