IFSP se abre para o meio rural com curso em Agroecologia
Experiência inovadora eleva a escolaridade de agricultores familiares, especialmente mulheres
Neste 3 de outubro, Dia Nacional da Agroecologia, contamos um pouco sobre o Curso Técnico Experimental Subsequente em Agroecologia, uma experiência inovadora e multicampi que vem sendo desenvolvida no IFSP e tem se revelado muito bem-sucedida. Venha com a gente acompanhar essa história!
O curso é o primeiro do IFSP que propõe elevação de escolaridade a agricultores familiares, tradicionais, quilombolas, indígenas e assentados de reforma agrária. É uma experiência que envolve estudantes, principalmente mulheres, de diferentes territórios do estado de São Paulo, todos vindos do meio rural e com experiência em Agroecologia para a produção de alimentos e a vida em comunidade. A ideia é proporcionar, de um lado, formação técnica por meio de conhecimentos agroecológicos e, de outro, formação social com um olhar voltado para o feminismo e o antirracismo.
Iniciado em dezembro de 2021, e com encerramento previsto para dezembro deste ano, o curso conta com 30 estudantes (22 mulheres e 8 homens, 20 negros e 4 indígenas). Além disso, envolve cinco câmpus do IFSP: Matão, Boituva, São Roque, Campinas e Jacareí. A coordenadora do curso, Alexandra Filipak, relata que ele foi desenhado dentro da Pedagogia da Alternância, o que significa que compreende momentos de formação presencial e de formação prática nas comunidades de origem, de forma que os conhecimentos trabalhados em sala de aula estejam dentro da realidade dos alunos agricultores, bem como sirvam para uma transformação da realidade das comunidades.
Alexandra detalha que a Pedagogia da Alternância compreende o Tempo Escola e o Tempo Comunidade. No primeiro, os estudantes passam 15 dias tendo aulas presenciais; no segundo, são realizadas formações práticas nas comunidades de origem dos participantes. Os estudos e as práticas do Tempo Comunidade são acompanhados por docentes dos câmpus envolvidos na iniciativa, realizados tanto de forma remota (a maioria) como presencial.
Para a coordenadora, o curso representa a abertura de um novo olhar do IFSP para o mundo rural. “Esse mundo é muito presente nos locais em que
nossos câmpus estão inseridos, e até agora eram pouco incluídos em nossas ações institucionais de ensino e elevação de escolaridade”. Segundo ela, o curso tem representado aos estudantes uma formação vinculada às realidades sociais, econômicas e culturais de seus territórios de origem. “Essa formação contribui com a capacidade desses sujeitos de, através do trabalho em Agroecologia que desenvolvem nas comunidades, qualificar essa atividade e transformar suas realidades e as desigualdades econômicas, sociais, de gênero e etnias vividas no meio rural”.O curso é realizado por meio de uma parceria com a Sempre Viva Organização Feminista (SOF) e com o Conselho Britânico, da qual originam os recursos para a sua execução. Nesses, incluem o custeio da hospedagem e da alimentação de todos os participantes durante o Tempo Escola. A iniciativa também conta com o apoio das Pró-Reitorias de Extensão e de Ensino do IFSP. Para o curso, os estudantes foram selecionados a partir de edital público, baseado em ações afirmativas. Houve, em média, 70 inscrições recebidas para 30 vagas disponíveis.
Aulas e atividades práticas
O Curso Técnico em Agroecologia trabalha com três eixos formativos: Feminismo e Estudos de Gênero, Conhecimento Agroecológico e Construção Social de Mercados. O objetivo é gerar possibilidades de atuação dos envolvidos no mundo do trabalho rural e urbano, promovendo conjuntamente a sua autonomia e o enfrentamento das desigualdades de classe, gênero e raça, ambientais e econômicas em seus territórios.
A primeira etapa de Tempo Escola ocorreu em dezembro de 2021, no Câmpus Boituva, sendo também o início da caminhada de formação da turma. Foram estudados conteúdos voltados ao feminismo rural, aos fundamentos da agroecologia como ciência, movimento e prática, além da possibilidade de acesso, pelos alunos, aos conhecimentos sobre o solo, sua formação química, fisiológica e as formas de mantê-lo em sua fertilidade.
A segunda etapa de Tempo Escola foi realizada em Cati/SP – Fazenda do Estado –, no município de Manduri, durante o mês de maio de 2022. Já a terceira etapa de Tempo Escola foi realizada em agosto de 2022, no Sindicato dos Químicos, em Valinhos/SP. Nesses encontros, os estudantes tiveram diversas trocas de saberes acerca dos conhecimentos relacionados à Agroecologia.
Participante do curso, Aline Pontes Batista relata que a importância da Agroecologia em sua vida veio da avó, pelos conhecimentos tradicionais dela e dos mais velhos da família, e também da mãe, que continua agora a vida na Agroecologia. “O curso me traz a possibilidade de ser uma jovem que leva adiante a missão da família em plantar, colher e cuidar da vida e da natureza fazendo Agroecologia”, diz a estudante, moradora da agricultura familiar em Cananéia, no Vale do Ribeira, e participante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
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