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Capoeira: Prática e Salvaguarda

Publicado: Quarta, 27 de Junho de 2018, 12h21 | Última atualização em Quinta, 28 de Junho de 2018, 18h32 | Acessos: 2175

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A execução do projeto de extensão Capoeira Contemporânea: Vivência e Práticas Básicas durante os anos de 2016 e 2017 fornece aporte para a realização, em 2018, do programa de extensão Capoeira: Prática e Salvaguarda.

INTRODUÇÃO

Século XVII, período escravocrata, a capoeira nasce no Brasil no seio da população negra, escravizada ou descendente de escravizados e se desenvolve como um modo de sociabilidade e solidariedade, uma estratégia social para lidar com o controle e com a violência. Após dois séculos de lutas a escravatura é abolida. Contudo, dois anos depois, a capoeira, rotulada preconceituosamente como atividade da laia mais baixa da sociedade, se vê proibida por lei no primeiro Código Penal da República (Decreto Nº 847, de 11 de outubro de 1890).

Com o Estado Novo, na década de 1930, veio a descriminalização. No projeto nacionalista da era Vargas os elementos da cultura negra foram apropriados pelo discurso e práticas oficiais a fim de construir uma imagem unificada de identidade nacional. Conforme Conde (2007), nesse período o “‘samba de preto’ passa a ser o ‘samba de minha terra’ e a capoeira ganha novo estatuto, sendo definida pelo próprio Getúlio Vargas como a única colaboração autenticamente brasileira à educação física”.

Passado mais meio século, a capoeira se firma, finalmente, como ferramenta educacional, mantendo compromisso político de lutar contra as desigualdades, sejam elas étnicas, religiosas ou de gênero. Nas aulas de capoeira, encontram-se pessoas de diversas faixas etárias, pesos, gêneros... O ethos da capoeira encoraja uma educação inclusiva e democrática.

Nesses três parágrafos iniciais, resumiu-se muito concisamente a história da capoeira, revelando basicamente como a elite branca reagiu diante dessa manifestação cultural ao longo da nossa história recente. Com propósito, excluiu-se praticamente toda a história da luta negra no Brasil, para que se possa entender como o discurso elitista se fixa no senso comum. É em oposição a consolidação desse discurso que se justifica a proposta de vivenciar e praticar a capoeira.

Neste sentido, o projeto de extensão Capoeira Contemporânea: Vivência e Práticas Básicas se inicia, em 2016, visando ofertar, exatamente, vivência e prática da capoeira e, assim, oportunizar aos participantes: o desenvolvimento das inteligências múltiplas psicomotoras; o desenvolvimento físico, intelectual e moral;  a possibilidade de mudanças comportamentais; o cultivo do convívio social; o restabelecer da estabilidade emocional; o fortalecer dos vínculos familiares; a formação novos hábitos; a garantia de acesso a direitos básicos e, sobretudo, a promoção de conhecimentos históricos e a transmissão de valores culturais.

 

ATIVIDADES REALIZADAS

Em 2016, após ser avaliado com 78,35 pontos dos 100 pontos possíveis e ser aprovado em terceiro lugar dentre outros 16 projetos que propunham trabalhar a Cultura como linha de extensão, o projeto Capoeira Contemporânea: Vivência e Práticas Básicas foi fomentado pelo Edital Nº 592, de 28 de outubro de 2015, da Pró-Reitoria de Extensão do IFSP. O fomento contemplava R$3.000,00 para aquisição de materiais de consumo e mais R$3.200,00 para pagamentos mensais de R$400,00, por 8 meses, a um bolsista discente de extensão. O bolsista foi selecionado e seu auxílio à execução do projeto justificou em muito o pagamento das mensalidades da bolsa, contudo, por inexperiência administrativa, a aquisição do material de consumo sofreu atraso e o material solicitado (50 conjuntos de uniformes de capoeira e 45 cordas para graduação de capoeira) só ficaram à disposição da equipe executora do projeto em 2017.

Neste primeiro ano de atividades, o projeto de extensão caracterizou-se por realizar atividades semanais em três espaços diferentes, para três públicos distintos. Assim, a partir de 25 de abril de 2016, mesmo sem o material requisitado, a equipe realizou aulas de musicalidade, história, condicionamento físico e técnicas capoeirísticas no próprio câmpus e em parceria com dois Centros de Referência em Assistência Social (CRAS), o CRAS Cidadania e o CRAS Conviver, ambos localizados na cidade de Capivari. As atividades foram realizadas às segundas-feiras, das 17h15 às 18h45, no Câmpus Capivari, às terças-feiras, das 14h00 às 15h30, no CRAS Cidadania e às quintas-feiras, das 15h30 às 17h00, no CRAS Conviver. A proposta foi executada com a concepção do projeto de extensão ir até a comunidade e, feito desta forma, alcançou-se boa parcela do público alvo estimado.

Ainda em 2016, os participantes do projeto colaboraram com apresentação cultural (roda de capoeira) durante a Semana de Consciência Negra do Câmpus Capivari, participaram de eventos capoeirísticos de grupos de capoeira da cidade e oportunizaram atividade formativa durante o III Congresso de Extensão e Mostra de Arte e Cultura do IFSP (CEMAC), em Sertãozinho-SP. Além disso, o projeto iniciou levantamento bibliográfico acerca da temática da capoeira. Contudo, por não se ter recebido a tempo os uniformes e cordas solicitados, a equipe executora do projeto decidiu por não realizar o evento de graduação dos participantes, embora eles já houvessem sido aprovados nas avaliações física, teórica e técnica.

Mesmo depois da ótima avaliação inicial, dos esforços para execução e dos resultados de 2016, em 2017 a (re)proposta não foi sequer homologada para avaliação em atendimento ao Edital da PRX Nº 823, de 29 de novembro de 2016, sob a justificativa de não se enquadrar como projeto de extensão, mas sim como curso de extensão. Explica-se: segundo a Portaria do IFSP Nº 2.968, de 24 de agosto de 2015, curso de extensão é uma ação de extensão, mas um projeto de extensão se caracteriza pelo conjunto de duas ou mais ações de extensão. Realmente o texto da proposta havia passado por alterações visando atualizar e adequar o projeto para um próximo passo: o projeto não mais se deslocaria até a comunidade externa ao câmpus, a proposta, agora, era de que a comunidade viesse ao câmpus. E mesmo que ainda se mantivessem as propostas de rodas de capoeiras como apresentações culturais, participações em evento e continuação da pesquisa bibliográfica, o texto da proposta foi entendido como curso de extensão e foi desclassificado em relação ao Edital Nº 823/2016.

Após entendimento da justificativa para a não homologação, mesmo que não concordando com ela, o proponente do projeto realizou nova adequação ao texto, deixando claras todas as atividades propostas, inclusive a realização do evento capoeirístico: I Batizado e Troca de Cordões de Capoeira do IFSP Câmpus Capivari. E, assim, com todas as atividades bem explanadas, o novo texto foi proposto e aprovado em atendimento ao Edital do Câmpus Capivari Nº 008, de 16 de fevereiro de 2017, com fomento previsto para uma bolsa discente de extensão: R$300,00 mensais, por 8 meses. Ao todo, R$2.400,00. Coincidentemente, o discente escolhido como bolsista em 2016 foi o único candidato à bolsa em 2017. Sua participação na equipe de execução e a familiaridade com o projeto contribuíram em muito, mais uma vez, para execução das atividades propostas.

O primeiro aspecto a se destacar sobre o segundo ano de execução do projeto é que a participação da comunidade externa aumentou em relação ao ano anterior em 33,33%, embora a participação geral tenha diminuído em 22,27%. Ou seja, as alterações realizadas na proposta não a desqualificaram como ação de extensão. O segundo ponto que merece destaque se verifica na inscrição e assiduidade de um participante com necessidades específicas (nanismo e baixa visão). Ou seja, a capoeira se revelando como ação inclusiva e democrática.

Neste segundo ano de realização do projeto, finalmente recebeu-se os uniformes adquiridos em 2016 e os participantes puderam desfrutar deste material para prática da capoeira. Em 2017, a proposta previa uma carga horária maior de prática em relação ao ano anterior. Foram realizados 2 encontros semanais de duas horas de duração: às segundas e quartas-feiras, das 17h00 às 19h00, durante 8 meses.

Como não se havia realizado o evento de graduação dos participantes do projeto em 2016, aqueles que remanesceram do ano anterior e que haviam sido aprovados nas avaliações, foram convidados a participar (já uniformizados) de evento de graduação em parceria com o Capivari Clube, entidade particular que, entre outras modalidades, também oferta a prática da capoeira. Assim, em 24 de junho de 2017, os 3 primeiros participantes do projeto foram batizados na arte da capoeira.

Além da presença no evento capoeirístico do Capivari Clube, os participantes do projeto foram convidados e participaram de eventos das prefeituras municipais de Capivari e de Rafard-SP e da escola particular EAC – Escola Alegria de Crescer, também localizada em Capivari.

Em 23 de outubro de 2017, realizou-se o I Batizado e Troca de Cordões de Capoeira do IFSP Câmpus Capivari. O evento foi realizado durante as atividades da V Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e teve como objetivo principal reconhecer a dedicação, esforço e aprendizado dos 7 participantes que receberam nova graduação. O evento foi realizado em parceria e contou com a presença de profissionais e atletas dos grupos de capoeira “Expressão Paulista de Capoeira” e “Herança Negra”.

Durante a Semana da Consciência Negra, em novembro de 2017, realizou-se rodas de capoeira como apresentação cultural no Câmpus Capivari do IFSP e na Escola Estadual Bispo Dom Mateus, em Mombuca-SP. Ainda em novembro, dia 23, o projeto foi apresentado como relato de experiência na I Mostra de Extensão do IFSP Câmpus Capivari.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como resultado das atividades realizadas em 2016 e 2017, e com a experiência adquirida durante as submissões de propostas e realizações de atividades relacionadas ao projeto Capoeira Contemporânea: Vivência e Práticas Básicas, elaborou-se o programa de extensão Capoeira: Prática e Salvaguarda, submetido e aprovado em segundo lugar, entre 11 propostas de programa de extensão submetidas em atendimento ao Edital da PRX Nº 901, de 11 de novembro de 2017. A proposta expande os objetivos anteriormente traçados e propõe atividades que tem como público alvo ativo, além dos iniciantes na prática e vivência da capoeira, os profissionais e mestres de capoeira da região onde se localiza o Câmpus Capivari do IFSP. A proposta é abordar a capoeira em seus múltiplos âmbitos ambicionando integralizar os saberes popular e acadêmico para a prática e salvaguarda desta manifestação cultural.

O fomento para o programa de extensão, que se realiza em 2018, contempla parcelas mensais de R$ 400,00 para 8 bolsistas discentes de extensão, por 7 meses. Além de mais R$ 10.000,00 para aquisição de materiais de consumo e R$ 3.000,00 para aquisição de materiais permanentes. No total R$ 35.400,00.

O material permanente que será adquirido refere-se exclusivamente a instrumentos musicais primordiais nas rodas de capoeira e o material de consumo refere-se a novos conjuntos de uniformes e aparelhos para realização de exercícios técnicos. Os 8 bolsistas já foram selecionados e, inclusive, um deles é o mesmo bolsista que acompanha a realização das atividades desde 2016, porém, diante de suas consideráveis experiência e familiaridade com a execução das atividades, não se pode mais afirmar que se trata de coincidência.

O desenvolver da proposta está sendo relatado no site www.capoeiraifspcapivari.com.br, que por si só já revela um dos resultados do programa de extensão. O presente relato de experiência também se revela como resultado do programa. Dentre os demais resultados, porém, cabe destacar a solicitação de cadastro de novo grupo de pesquisa denominado NEPCap – Núcleo de Estudos e Pesquisas em Capoeira, realizada junto a Diretoria de Pesquisa (DPEQ) do IFSP em 14 de maio de 2018 e que, em rápida pesquisa no Diretório de Grupos de Pesquisa da Plataforma Lattes, revela-se pioneiro, uma vez que nenhum grupo de pesquisa cadastrado na citada plataforma se propõe a pesquisar exclusivamente a capoeira.

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